terça-feira, 22 de março de 2011

Banda 25 de Março há um século a dar música

Associação Banda 25 de Março celebra o primeiro centenário de existência no próximo dia 25 de Março. Ao longo dos anos tem sido um marco na formação de dezenas de músicos
Foto: Glória Lopes









Não há romaria no Nordeste sem o toque mais ou menos intenso, mais ou menos dramático de uma banda filarmónica a marcar o compasso da procissão. Muitas vezes responsável por garantir a animação de festas e festinhas, a Banda 25 de Março vai transformar-se ela própria na protagonista das celebrações. Será um dia de festa rija na aldeia de Lamas, em Macedo de Cavaleiros, o próximo dia 25 de Março. A ocasião é propícia para foguetes, repertório de alegria e outros indicadores comemorativos, porque a banda filarmónica local, que quiseram as vontades dos seus fundadores tomasse nome de uma data, precisamente o 25 de Março, dia da sua fundação, assinalará o seu centésimo aniversário. É uma das duas únicas bandas filarmónicas do concelho de Macedo de Cavaleiros, nasceu, cresceu e sobreviveu numa aldeia, o que engrandece ainda mais o seu feito. É inegável que é a coroa de Lamas de Podence, o seu melhor cartão de visitas, a mais eficaz forma de promoção fora da região. A filarmónica resistiu ao tempo, com mais ou menos dificuldades. Nasceu na ditadura cresceu com a liberdade, carrega um século de história da freguesia e dos seus habitantes, eles próprios com as suas estórias fizeram a história da banda, muitos deles por lá passaram, dezenas aprenderam ali os primeiros passos no Dó, Ré, Mi Fá, Sol da vida, antes mesmo de ingressarem nos bancos da Primária. Tornou-se uma escola de música. Anda há 100 anos a levar o nome de Lamas a vários pontos do país e ao estrangeiro, com as suas actuações. “Devia ser estimada, mas é pena que, às vezes, os políticos não pensem muito assim”, lamentou António Vila Franca, presidente da Associação Banda 25 de Março. Manter tantos anos uma filarmónica numa pequena aldeia do Interior não tem sido tarefa sem engulhos. O responsável não esconde que a resistência se tem ficado a dever “à bom vontade” de todos, nomeadamente aos músicos das várias gerações, junta de freguesia, Câmara de Macedo de Cavaleiros e população em geral. Aguentar a banda custa por ano cerca de 40 mil euros, se não houver contratempos e despesas imprevistas, o que sucede sempre que um instrumento se estraga. Os instrumentos são caros, por vezes precisam de ser renovados, ainda que possam durar 10 anos ou mais. Uma tuba custa quatro ou cinco mil euros, contrabalança com um trompete que pode ficar pelos 500 euros. “É claro que tem havido muita disponibilidade das pessoas em trabalhar, é graças a isso que temos conseguido bons resultados”, assegurou António Vila Franca. Ele sabe que conservar uma associação desta natureza numa aldeia “não é normal”. Esta tem-se renovado. Ao contrário da maior parte das freguesias do Nordeste, Lamas de Podence até pode ser considerado um caso exemplar porque não se tem notado falta de gente jovem para integrar o agrupamento musical. “É claro que alguns vão saído, à medida que saem da região à procura de empregos, todavia vão entrando outros. Assim vamos continuando”, referiu o presidente. A banda ultrapassou as fronteiras da aldeia, alargou-se ao concelho, integrando jovens de outras localidades que, através do passa a palavra dos que lá tocam, tomam conhecimento de que ali se pode aprender música de uma forma gratuita. O maestro, Bruno Pinto, é de São Mamede de Ribatua. Ezequiel Pinto, 21 anos, tocador de pratos, há cinco anos que integrou a banda, “por puro gosto”, não teme ser associado a música para velhotes trôpegos fora de moda. “Gosto de fazer concertos, de actuar nas procissões. Gosto de tudo. Esta é uma boa escola de música, de outro modo não poderia ter aprendido”, justificou.
Trinta e cinco actuações por ano

A associação é uma instituição sem fins lucrativos, mas o dinheiro é essencial para sobreviver. Os apoios são sobretudo do município, o resto das verbas provêm dos serviços, actuações e concertos que vão realizando por todo o país, cerca de 35 por ano. A banda tem actualmente 42 elementos, cuja média de idades é de 24 anos, o músico mais velho tem 38 anos. Quem lá toca fá-lo por gosto, dispõe de duas noites por semana para os ensaios, põe de parte outros atractivos que aliciam a maioria dos jovens e não se importa se lhe chamam retrógrados por não fazerem hip-hop ou rap. Os tons por estas bandas têm outros sons. “É gratificante estar nela”, atestou António Vila Franca, ele próprio músico, que realçou com orgulho que não se limitam a facultar formação musical, mas também formação humana. A Associação Banda 25 de Março foi fundada em 1911, inicialmente era designada por Banda de Lamas, até que em 1980 passou a chamar-se Associação Banda 25 de Março. Reza a lenda, que também perdurou, que a origem nasceu de uma coincidência, que viria a revelar-se feliz, pois os instrumentos musicais foram parar à aldeia por mero acaso. “Parece que se destinavam à aldeia vizinha, Corujas, mas acabaram por ficar aqui. Ninguém sabe porquê”, resumiu António Vila Franca, que considera que em termos históricos “não há grandes factos, nem muitas coisas para contar”. A madrinha da banda é Nossa Senhora do Campo, cujo dia festivo se celebra a 25 de Março.
 A Associação Banda 25 de Março sobreviveu às dificuldades e ao tempo, e pelo que se conta na aldeia só teve um período de inactividade durante um ano, de 1938 a 1939.

 Muitos maestros por lá passaram e deixaram a sua marca, designadamente Joaquim Fidalgo, Pontes, Pereira, Mesqueiro, João Fernandes, João Moreira, Melo, António, Luís Neves, Silva, Daniel Pires, professor José Coelho e Pedro Coelho. A instituição possui sede própria, inaugurada em 1998, onde decorrem os ensaios da banda e antigamente funcionava a escola de música, que passou a ocupar as instalações da escola primária, fechada. Actualmente conta com cerca de 8 alunos por ano, a partir dos nove.

 Foi evoluindo e adaptando-se às necessidades. “Se antigamente os músicos faziam as deslocações a pé, agora dispomos de um autocarro próprio”, frisou o presidente da associação. O programa do aniversário, começa no dia 25 de Março, sexta-feira, com uma missa e um concerto da Orquestra do Norte. No dia 26 será inaugurado um monumento à banda oferecido pela junta e pela câmara.

In "mensageiro de Bragança"

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